Mas não tenho mágoas nenhumas em relação a ninguém. Só tenho um caso, mas é de alunos. Esse foi um bocadinho chato, porque eu tive de marcar uma falta disciplinar, porque o rapaz estava destrambelhado. Eu tenho de agir ou então perco a turma. Insisti na minha posição. Eu, na altura, era muito magra, agora sou mais forte, mas isto é a idade. Ele era um rapaz de um metro e 70, bem constituído, pertencia à claque dos superdragões. Eu mandei-o sair porque ele foi muito insolente. Disse: “Então não sais… vamos chamar uma funcionária.” Os colegas começaram a dizer: “Vai embora, vai embora.” Ele acabou por sair. Esse foi um momento difícil, talvez dos piores. Mas uma pessoa esquece, faz parte. O curioso é que, muitos anos depois, vim a ser professora da filha dele: um doce de menina. Um doce de menina que me disse: “O meu pai foi seu aluno!” “Foi? Então como é que ele se chama?” Eu lembrava-me logo do nome, mas não lhe disse nada, claro. A menina não tinha nada a ver com o pai, era mesmo um doce. Ele, pelo contrário, era um péssimo aluno: não estudava nada, porque o que procurava era intimidar. Mas a filha não, não tinha nada a ver com ele, era mesmo um doce de menina. Ainda bem que ela era melhor que o pai. [Talvez hoje ele já não seja assim.] São momentos. Não podemos pensar que a pessoa fica sempre igual. Na altura, ele era jovem, o ambiente que frequentava era esse. Ele dizia mesmo: “O que eu gosto mais no futebol não é do futebol, é de atirar paralelos às camionetas dos visitantes!” Mas, com aquela filha, creio que já não seja assim.